Se eu pudesse, enrolaria meus filhos num plástico bolha para que nunca se machucassem com nada na vida. Você já pensou em algo assim? Olha, sendo sincera, quem me dera ter o poder de nunca deixar os meus filhos enfrentarem sentimentos negativos como dor ou mágoa.
Minha vontade é de afastá-los de tudo que pode lhes fazer mal, mas será que isso é possível? Ou então, será que isso é saudável? Pais superprotetores, atenção, esse tipo de comportamento pode ter um impacto enorme na autoestima dos seus filhos!
Nós não temos superpoderes!
Eu sei, admitir que nós não somos mulheres maravilhas, tampouco temos superpoderes, não é fácil. Perceber isso nos mostra quanto somos impotentes diante da vida, pois podemos até pensar que estamos no controle de algo, mas no fim das coisas somos mais dependentes do que pensamos.
Se eu pudesse, protegeria meus filhos de tudo. Se alguma criança negasse um abraço, se um coleguinha não aceitasse dividir o brinquedo, se fizessem meu filho chorar ou se deixassem ele triste por qualquer motivo que você. Ah, eu viraria uma leoa e brigaria com todo mundo! Você se sente assim?
Quando lembro da minha infância, fico muito agradecida pelos meus pais, pois eles eram protetores, mas não superprotetores. Eles sabiam que as frustrações faziam parte da vida, então me deixavam experimentar o mundo e até as coisas dolorosas que poderiam acontecer no meio do caminho. Eles tiveram muita sabedoria, paciência e amor.
Contudo, infelizmente, sei que muitas de vocês não tiveram a mesma experiência que eu, sei que muita gente teve uma infância cheia de traumas e correram riscos extremos para sobreviverem. Mas, acredite em mim, tentar blindar nossos filhos de qualquer dor é impossível e se tentarmos fazer isso vamos nos frustrar.
O impacto de pais superprotetores na autoestima dos filhos
Ter pais superprotetores pode ter um impacto muito negativo no desenvolvimento da criança e, principalmente, na autoestima dela.
Quando os pais são excessivamente protetores, ficam em cima o tempo inteiro e não deixam a criança fazer nada sozinha, isso tira delas a oportunidade de enfrentar seus próprios desafios e arrumar uma solução para eles sozinha.
A criança precisa passar por frustrações para desenvolver confiança em suas próprias habilidades! Ser um pai ou uma mãe superprotetor vai fazer a criança pensar “poxa, eu não posso ou eu não consigo fazer nada sozinho”, “sou burro”, “sou incapaz” ou “não sei me virar sozinho”.
Percebe como isso acaba com a confiança dos pequeninos? Eles não aprendem a confiar na própria capacidade, passam a depender excessivamente dos pais para resolver os dilemas da vida e pensam que o mundo é perigoso demais, pois sozinhos se sentem inseguros e incapacitados.
Realmente, há perigos no mundo, porém precisamos aprender a conviver em sociedade. Nós, pais, precisamos nos responsabilizar em criar, educar e preparar os nossos filhos para a vida.
Esse excesso de proteção prejudica o desenvolvimento da criança em várias áreas da vida, como autoestima, independência, habilidade social, inteligência emocional, proatividade e amadurecimento. Sem incentivo positivo, as crianças serão os eternos “tesouros da mamãe”, adultos que se comportam como adolescentes a vida inteira.
Há diversos estudos que mostram como o excesso de proteção influencia negativamente na infância e causa fragilidade emocional na criança. Um deles, realizado em 2013, na Universidade de Pittsburgh, descobriu que filhos de pais superprotetores têm mais dificuldade de lidar com tarefas desafiadoras, menor capacidade de controlar seus próprios comportamentos e emoções e autoestima baixa. Ou seja, a autoconfiança delas era zero.
Outro estudo, publicado em 2015 no Journal of Child Family Studies, descobriu que filhos de pais superprotetores são mais propensos a desenvolver ansiedade e depressão. Isso porque elas têm menos oportunidades de experimentar a vida, errar e aprender com cada situação desafiadora.
Um terceiro estudo, de 2021, teve como foco os adolescentes e constatou que pais superprotetores limitam a independência dos filhos o que, consequentemente, tornam essa fase muito mais difícil.
Segundo a pesquisa, os adolescentes não conseguem tomar decisões, gerenciar a própria vida ou assumir responsabilidade, pois se sentem perdidos e totalmente despreparados para fazerem qualquer coisa. Para piorar, tinham níveis mais baixos de autoestima.
5 problemas que devem ser enfrentados na prática
Então, papai e mamãe, esses são apenas alguns estudos que mostram para a gente que ser superprotetor afeta negativamente o desenvolvimento da nossa criança, desde suas habilidades sociais, emocionais, independência, até a autoestima. Tudo isso faz a criança se encolher.
Embora tenhamos boas intenções, precisamos criá-los com sabedoria, pois vão crescer e viver suas próprias vidas no futuro.
Para isso, separei 5 problemas que devem ser evitados no seu dia a dia!
1. Dificuldade em tomar decisões
Seu filho tem dificuldade de tomar decisão por conta própria? Então, comece a ajudá-lo em pequenas tarefas do dia, como escolher o próprio sapato e a roupa, assim ele terá a oportunidade de ter uma a responsabilidade de aprender a se vestir e escolher a roupa mais adequada para cada ocasião.
Você pode ajudá-lo dando algumas opções, mostrando qual cor combina com qual, mas deixe ele tomar a decisão final.
2. Falta de independência
Crianças superprotegidas têm pouca ou nenhuma oportunidade de fazer as coisas sozinhas e de ter experiências que ajudem elas a se sentirem independentes. Então, estimule seus filhos a serem mais confiantes tendo as próprias atividades, como arrumar a cama, guardar os brinquedos ou arrumar o material escolar do dia seguinte.
3. Falta de habilidade de enfrentamento
As crianças nem sempre têm a oportunidade de lidar com os desafios, seja na escola ou em casa. Por exemplo, imagina se sua filha está na escola e uma criança pega o brinquedo que estava na mão dela sem pedir permissão e de forma grosseira.
O que deveria ser feito? Revidar, morder o amiguinho ou chamar a professora e contar o que aconteceu? A habilidade de enfrentamento é isso, saber pedir ajuda, denunciar a injustiça e sinalizar que algo está errado.
4. Lidar com mudanças
Mudanças inesperadas são difíceis para qualquer pessoa, que dirá para uma criança. Por quê? Porque os pais estão sempre controlando o ambiente e a sua rotina. Isso afeta a capacidade da criança se adaptar a novas situações, saber lidar com mudanças na vida e de aproveitar também as oportunidades que aparecem em meio às transformações.
Ensine seu filho desde cedo e a vida dele será muito mais leve na fase adulta!
5. Autoestima baixa
Pais superprotetores ajudam a diminuir a autoestima do filho, porque tira dele a oportunidade de experimentar coisas novas, de saber o que ele faz bem e o que não tem tanta habilidade. A autoestima boa é essencial para uma vida saudável, feliz e prazerosa!
Ah, e não pense que eu estou aqui ditando regra. Não mesmo! A vida não é perfeita e, como eu disse no início deste texto, se pudesse protegeria os meus filhos de tudo e de todos, deixaria eles numa redoma invisível que bloqueia todo o mal e viveria eternamente para poder protegê-los até a velhice. Contudo, nenhuma de nós tem esse superpoder e, portanto, superproteger nossas crianças também não é a melhor opção.