A propaganda, sempre ela! Eu estudei Publicidade e Propaganda por dois anos e até gostava de uma coisa ou outra, mas não me esqueço de um “ensinamento” de um professor logo no início do curso.
“Para vender nossos produtos, criaremos necessidades que as pessoas, na verdade, não têm e, para isso, é só deixá-las infelizes com o que têm ou são hoje.”
É isso! Outro dia, arrumando uma das minhas muitas mudanças, não encontrava maneira de guardar meus muitos sapatos (sim, também sou vítima da síndrome de centopéia, que aflige onze a cada dez mulheres) e pensei em como tinha vários – de todas as cores, alturas, modelos e até repetidos.
Então pensei que não precisava comprar sapatos por pelo menos uns cinco anos. Estava firme em meu propósito, até visitar o shopping no dia seguinte e constatar como eu precisava de mais um!
Em casa não nos falta nada, mas é só olhar para uma vitrine, uma propaganda ou um folheto que a geladeira já não está boa, a TV é ultrapassada, a calça já não veste bem – e o cabelo, ah, pelo menos um corte novo!
Está na publicidade a grande fonte de amargura com nossa própria imagem. Acho que em alguns países isso é ainda pior. Mulheres magérrimas, loiras, com cabelos e pele impecáveis e um ar de felicidade imperturbável.
Isso é tudo o que se vê nas propagandas norte-americanas. Um dia desses, me propus a achar uma mulher um pouco mais “real” nesses anúncios dos Estados Unidos.
Rodei, olhei, pesquisei e nada.
Enquanto olhava uma jovem senhora imensamente gorda carregando pelos corredores do Walmart seus 5 kg de cereais num pacote que mais parecia ração para animais, me dei conta de que nos Estados Unidos a situação deve ser ainda mais sofrível, pois, com o maior índice de obesos do planeta (e nós bem na rabeira dessa estatística), é drástica a diferença entre o anunciado e o real.
A autoestima, se ainda existe, está em frangalhos nessas mulheres que mal se identificam com as dos anúncios, mas almejam justamente aquilo.
Num país onde o tamanho zero é idolatrado, e a maioria absoluta veste acima de 14, é possível imaginar quanta tristeza pode-se carregar na bagagem emocional.
Sim, não estar feliz com o espelho é uma dor, um peso que ninguém, exceto você, pode tirar dos ombros.
Não tenho a receita pronta para escapar disso, do contrário estaria milionária vendendo a tal fórmula, mas entendo que só existe uma possibilidade: aceitação.
Não aceitação no sentido de comodismo, preguiça. Nada disso. Afinal, mulher de verdade é uma eterna insatisfeita que busca sempre o melhor, e isso pode ser transferido, sem neuroses, para a nossa imagem.
Você pode querer, por exemplo, uma barriga mais lisinha, sem o efeito de uma bola sob a blusa, mesmo porque todas sabemos que gordura abdominal é a mais perigosa para a saúde. A tal da gordura visceral que envolve órgãos vitais é um gatilho para várias doenças sérias, incluindo o câncer.
Então, lutar contra a barriguinha é uma missão de saúde. Caminhadas, corridas, bike, patins, abdominais para dar aquela desenhada, tudo isso ajuda, mas tem que ser por prazer e pelo motivo certo.
O que não vale é contemplar suas coxas geneticamente grossas e almejar os cambitinhos da Isabeli Fontana. Não seja burra! Um bumbum delineado e firme é possível com boas doses de musculação, mas você não vai virar uma mulher-fruta se a família a contemplou com sangue japonês ou alemão.
Olhar para o espelho e contemplar sua perfeição só será possível quando agradecer a Deus pelo corpo saudável que Ele lhe deu.
Menos que isso é até pecado, viu! Você tem pernas para andar, cabeça no lugar e funcionando – ainda que desmiolada, às vezes -, pés que levam você aonde precisa ir, mãos articuladas, braços funcionais.
Aproveite agora e use esses braços para se dar um abraço e se elogie um pouquinho. Vai, repita: “Eu sou uma obra-prima de meu Deus. Linda e perfeita!”
Gratidão em relação ao seu corpo é o primeiro passo para ser menos rabugenta e neurótica. E é incrível como ter pouco dinheiro ajuda nessa hora. Não estou brincando!
Já dizia o poeta: “As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”. Quem acha isso maldade deve prestar atenção a uma pesquisa do Núcleo de Doenças da Beleza da PUC do Rio de Janeiro.
Nela, os pesquisadores descobriram que mulheres de classe média e alta perdem a libido quando se sentem feias. Já nas classes mais baixas, o corpo é percebido como instrumento de trabalho, fundamental para cuidar dos filhos e fazer as tarefas diárias.
Para as menos favorecidas, a comida é uma benção, por isso, quando estão acima do peso ou fora dos padrões de beleza, elas não deixam de fazer sexo ou de se sentir atraentes.
Já as mulheres com mais dinheiro, fogem do sexo ao se sentirem mais gordas. E aí nem preciso dizer que perdem outros prazeres e a chance de queimar algumas calorias…