Lembro de uma coisa que me bateu forte durante a depressão, período de muita dor (muita mesmo!), foi o livro 12 regras para a vida: um antídoto para o caos, de Jordan B. Peterson. Como o próprio título já diz, ele traz regras e explicações do porquê devemos segui-las, e o ponto 2 me marcou bastante, que diz: cuide de si mesmo como cuidaria de alguém sob sua responsabilidade. Nesse sentido, a nossa autoestima depende de alguns fatores para se manter saudável, e é esse assunto que vou abordar no post de hoje.
Autoestima: como estar bem consigo mesma?
Eu reli essa obra recentemente, pois a primeira vez foi em 2015, quando ainda morava em Londres e estava grávida do Theo e, desde então, a regra cuide de si mesmo como cuidaria de alguém sob sua responsabilidade ficou martelando na minha cabeça.
Então, o que significa isso? O que tem a ver com eu estar explorando outras coisas na vida agora, como sair mais com as minhas amigas? No livro, ele diz para cuidarmos de nós da mesma forma que cuidamos dos nossos filhos, dos nossos bichinhos de estimação ou dos amigos. Ou seja, de uma maneira devotada, carinhosa e zelosa.
Geralmente, temos a tendência de nos colocarmos no último lugar da fila. Quem é mãe vai me entender. Somos as últimas a atender nossas próprias necessidades e desejos. Isso não é normal, não pode ser considerado comum de jeito nenhum. Imagina só, como você vai cuidar dos outros se não estiver bem? Como vai trabalhar e cuidar da casa se estiver mal? Por isso, essa regra é muito importante para a vida.
O autor advoga que esse é um efeito danoso, tanto para a nossa autoestima quanto para a nossa compreensão de mundo. E, de certa forma, é uma maneira egoísta de viver, porque quando você maltrata a si mesma, não cuida bem do próprio corpo, mente e da alma, também está privando as outras pessoas de conviverem com o que poderia ser a sua melhor versão. Portanto, essa regra é bem mais profunda do que parece.
Mas, afinal, por que essa regra fez diferença na minha vida? Durante a depressão, quando eu estava realmente muito mal, estava desmotivada, querendo que o mundo se resolvesse sozinho, que o tempo tivesse mais horas no dia, desejava que alguém viesse e fizesse exercício por mim, que outra pessoa tomasse a responsabilidade por minhas refeições balanceadas e saudáveis e até que educasse o meus filhos e desse conta das minhas demandas de trabalho.
Eu queria, de todo jeito, que outras pessoas fizessem o que eu precisava fazer. Mais importante ainda, que fizessem a meu modo, tudo da maneira como eu queria, mas sem o meu esforço.
O prazer gerado pelo ato de cuidar
Eu gosto muito de jardinagem, mexer com a natureza me coloca num lugar de contemplação pela vida. Eu tenho plantas variadas e nos últimos tempos comecei a cultivar hortênsias. Primeiro eu planto no vaso, o que requer diversos cuidados específicos e bastante trabalho, pois requer um cuidado diário e regular de rega e poda.
Cuidar do jardim nos faz ter zelo com as flores, pois precisamos cuidar da terra, tirar as ervas daninhas e os bichinhos, além de preservar cada uma no ambiente que for mais adequado para a espécie.
Mas, Fabi, por que ter todo esse trabalho com as plantas vale a pena? Porque quando tudo floresce, quando tudo está bonito, está resplandecendo, as folhas estão verdes, as flores estão desabrochando, é um prazer muito grande saber que você contribuiu para o crescimento de tudo isso. É uma alegria essa contemplação da natureza! Só que para chegar nessa fase do prazer, é preciso cultivar e partir para o trabalho. Então, muitas vezes, a gente quer uma flor bonita, mas não quer cuidar dela, não quer ter trabalho ou fazer qualquer tipo de esforço.
Na vida costumamos querer a planta bonita para a gente olhar e contemplar a beleza dela, mas poucas vezes estamos dispostos a trabalhar e nos dedicar a deixá-la bela. É fácil olhar quando ela já está pronta, o difícil é ter a paciência de plantar, regar e esperar florescer.
Ok, mas o que isso tem a ver comigo, meus filhos ou a minha família? É simples. A jardinagem é uma metáfora que retrata com perfeição a forma como você tem tratado a si mesma. Você tem cuidado de você, cultivando o seu melhor lado, aprendendo coisas novas para crescer e se embelezando para ser contemplada pelos outros e para contemplar a vida?
Durante a depressão, lembro que o médico disse assim: “Fabi, tudo o que você precisa fazer agora é cuidar da alimentação, descansar, fazer exercícios físicos, tomar a medicação e ir à terapia.” Parecia tanta coisa junto, já fiquei pensando como daria conta de encaixar isso na minha agenda, mas logo lembrei da segunda regra de Jordan Peterson. O seguinte pensamento veio à minha mente: “se outra pessoa que estivesse sob os meus cuidados estivesse passando pelo mesmo momento e doença que eu, como eu cuidaria dela? Se fosse uma amiga, meu marido, meus pais, irmãos ou filhos…” Eu não faria pouca coisa.
Eu, na verdade, daria o meu melhor, faria tudo e mais um pouco para que essa pessoa ficasse bem, porque aqueles que eu amo merecem isso. Ora, por que eu não estava me tratando da mesma forma?
Assuma o que é responsabilidade sua!
Uma das respostas que encontrei foi a autorresponsabilidade. Isso significa que eu deveria tomar as rédeas de todas as áreas da minha vida e, novamente, ser responsável com cada uma delas. Eu costumo brincar que a sorte é o esforço humano associado à graça divina. A gente não seria nada se Cristo não fizesse por nós. Contudo, isso não pode virar desculpa para deixarmos de lado a nossa parte no processo.
“Sê forte e corajoso” é uma ordem para a autorresponsabilidade. Vai lá, faça agora, comece já! Não terceirize a sua parte! Pare de dar desculpas esfarrapadas para justificar seus fracassos ou disfarçar a sua preguiça. Não fique inventando motivos. Pare de culpar os outros. Não espere a hora perfeita, o dia que o seu marido vai mudar para você mudar também, o dia que tiver mais dinheiro ou o momento em que sobrar tempo. Faça já. É por você mesma que esse bem será feito!
A responsabilidade é sua, minha, nossa. Somente nossa. É um bálsamo dizer para si mesma que está usando toda a capacidade mental, intelectual e física que Deus te deu para assumir o controle de sua vida. Quando a gente reconhece isso, a autoestima fica melhor, a gente para de procurar um culpado para tudo e assume que poder cuidar de nós mesmas é um presente dado pelo Senhor.
Eu parei de ficar procurando desculpas ou culpados. Ninguém me deve nada, eu vou lá e faço. Eu peço a ajuda divina e a orientação do Espírito Santo. Eu me abro para a sabedoria, vou fazendo o meu melhor a cada dia e isso faz toda a diferença no final para a minha autoestima.