Já ouviu por aí aquela famosa frase: “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”? Por um acaso ela já saiu da sua boca? Isso tem nome: dissonância cognitiva. Não entendeu? Então vem comigo, que eu vou explicar o que é esse conceito e como ele afeta a sua vida!
O que é Dissonância Cognitiva
Todos nós acreditamos em algumas ideias, e essas ideias, por sua vez, podem ser verdade ou não. Contudo, é através delas que nós fazemos nossas escolhas e dizemos o que pensamos. É, basicamente, o que chamamos de crenças ou valores. Mas o que isso significa?
Segundo o psicólogo e professor norte-americano Leon Festinger, que deu início a esse conceito em meados do século XX, Dissonância Cognitiva é como uma tensão entre o que o indivíduo pensa ou acredita e aquilo que ele faz. Quando uma ação está em desacordo com aquilo que o sujeito pensa, é gerado um desconforto nos mecanismos psíquicos, resultando em um efeito dissonante, ou seja, que não combina, sem harmonia.
Eu, por exemplo, acredito que eu seja honesta e altruísta; acredito que cuidar da família é um valor primordial; acredito que Deus é bom. Essas crenças são o que controla a minha mente, mas quando faço algo que vai contra tudo isso, o meu cérebro gera um sentimento de frustração e entra em choque com as minhas ações.
Como a Dissonância Cognitiva afeta a vida?
A Dissonância Cognitiva impacta diretamente a nossa autoestima e a noção de valor que nós temos de nós mesmos. Imagina só que você é uma pessoa que acredita que o planeta está acabando, que a gente precisa cuidar da água, dos animais, da mata, e que a sociedade precisa ser ecologicamente correta… mas no seu dia a dia, por causa da vida prática e da correria, você vive usando a sacolinha plástica do mercado, ou então, usa absorvente descartável e tem um carro. A sua mente diz uma coisa, mas as ações dizem algo diferente.
Ou seja, talvez você seja uma pessoa que não tem nenhuma preocupação com o meio ambiente, mas na sua crença diz que sim, porque você acha que é importante. Daí, quando faz tudo ao contrário, você fica com um sentimento de culpa.
O Doctor Lion, que foi quem sistematizou a ideia de Dissonância Cognitiva, percebeu ao longo do anos que essa era uma queixa recorrente no consultório. As pessoas chegavam dizendo que se achavam uma fraude, que não se sentiam bem e que a vida parecia não ter sentido. Após a análise clínica, ele percebeu que alguns vieses cognitivos desses pacientes falharam e geraram esse efeito.
Por exemplo, eu conheci uma pessoa que falava para todo mundo que a família era muito importante, que era o bem maior que qualquer um deveria investir na vida e por aí vai. Acontece que, na prática, essa pessoa é uma sem-vergonha, trai o marido, gosta de se envolver em situações perigosas e libidinosas. Então, quando ela está sozinha no quarto, à noite, ela chora de mal-estar e se sente terrível, porque aquilo que ela faz não condiz com o que ela prega e com aquilo que ela acredita.
O problema de tudo isso é que a gente não enxerga o mundo de maneira real, não enxerga de fato as coisas como elas são, mas sim de acordo com as nossas crenças pessoais. Se eu acredito que todo mundo é mau e que as pessoas são cruéis, vou achar que estou sempre em perigo e com medo de tudo. Agora, se eu digo que devemos tomar cuidado e buscar sempre a segurança, mas não tomo nenhum cuidado e sou completamente imprudente, terei um mal-estar.
Não tem nada a ver com hipocrisia
Para algumas pessoas esse efeito parece óbvio, e muita gente tende a chamar isso de hipocrisia, mas não é. A hipocrisia é quando você deliberadamente não acredita numa coisa, mas fala que acredita. É, basicamente, fingir algo e ser dissimulada. Uma pessoa hipócrita exige a perfeição dos outros, mas age de maneira diferente sem culpa ou peso na consciência. No caso da Dissonância Cognitiva, a pessoa realmente acredita no que diz, mas quando faz algo que vai contra aquilo, sente-se culpada.
Então, não confunda uma coisa com a outra, pois elas não têm nada a ver. Sendo assim, pare e pense um minutinho: como você se sente em relação à sua postura diante da vida? Você se sente uma pessoa coerente? Existe coerência entre o que você fala e o que você faz ou acredita? Existe coerência entre aquilo que está na sua cabeça como valor e aquilo que é o seu cotidiano?
É possível mudar
Entenda de uma vez por todas que muitas das fontes de infelicidade ou de baixa autoestima estão diretamente ligadas justamente à dissonância cognitiva. Você tem agido ao contrário de tudo o que diz ser correto, mas assume isso e se arrepende.
Mas tenha calma, porque dá para melhorar, viu? Existem algumas maneiras de ajustar essa falta de harmonia cognitiva e, assim, ser mais coerente com as suas crenças.
1. Define quais são as suas crenças
A primeira é simples: você deve ajustar as suas crenças e definir em que realmente acredita. Muitas pessoas têm crenças erradas, pois cresceram ouvindo o que é certo ou não é, como devem agir, o que devem fazer, qual a maneira certa de enfrentar os dilemas e viver a vida. Isso acontece ao longo de toda a nossa vida, desde o primário, até a escola, a faculdade, entre os amigos, no trabalho e, principalmente, na família.
Por esse motivo, adquirir conhecimento e consciência de quem você é, quais são suas crenças e valores e o que precisa ser ajustado, vai melhorar a sua vida em muitos aspectos. Somente assim a dissonância cognitiva não vai atrapalhar ou impactar a sua vida de maneira negativa.
2. Coloque em prática o que acredita
A outra ação é ajustar a sua vida prática do dia a dia. Depois que você reviu suas crenças, o que precisa ser ajustado? Talvez sejam os seus hábitos, o modo de falar ou os lugares que frequenta. Não importa o que seja, liste como essa situação será mudada e comece a agir e, finalmente, a viver a vida de maneira coerente com aquilo suas crenças e valores.
Nunca é tarde para mudar. Agora é a hora, senão a culpa vai continuar perseguindo sua mente e martelando seus pensamentos para que você ajuste a sua conduta com aquilo que você acredita.
