Eu não pretendia falar sobre esse assunto, pois é duro e me sensibiliza bastante, mas diante da situação, não tive escolha. Parei e pensei que mais pessoas devem passar pela compulsão alimentar, que nos traz culpa, ansiedade, insatisfação com o corpo e diversos outros problemas de saúde.
Conforme dados da Associação Brasileira de Psiquiatria, cerca de 70 milhões de pessoas no mundo sofrem de transtornos alimentares, como bulimia, anorexia e compulsão por alimentos. Então, vamos conversar sobre esse assunto?
O que é compulsão alimentar?
A compulsão alimentar é uma doença que busca na comida o alívio para sensações desagradáveis, como preocupação, estresse, tristeza, angústia e ansiedade. Uma pessoa que come compulsoriamente, em geral, procura por uma fonte rápida e de fácil prazer, como lanches e chocolates, e come desesperadamente tudo de uma vez, sem pensar direito no ato e sem mastigar a comida corretamente.
Há em nosso cérebro um local responsável por regular a nossa fome e saciedade e quando ele está desregulado, acontece um desequilíbrio, que acarreta numa vontade imediata de descontar questões emocionais ou psicológicas na comida. Muitas vezes, essa é uma atitude inconsciente e a pessoa nem percebe o que está fazendo, porém faz com frequência e sempre que tem algum desconforto procura a comida para descontar os sentimentos negativos.
A minha luta contra a compulsão alimentar
Como eu citei na introdução deste texto, eu passei por uma situação marcante que me fez refletir sobre o assunto e a assumir para mim mesma que eu estava com um problema, eu tinha compulsão alimentar. Certo dia, estava em minha casa, angustiada e culpada por perceber o que eu havia acabado de fazer: eu comi uma caixa inteira de chocolate em poucos minutos. E olha que eu nem gostava dos bombons que eu havia devorado segundos antes. Eu achava ruim, doce demais, mas mesmo assim comi. Só de lembrar fico com vontade de chorar.
Há mais ou menos 15 anos eu estava fazendo uma reportagem para uma revista que eu trabalhava e fui levada para um grupo que chamava Comedores Compulsivos Anônimos. O evento foi em Curitiba, na época eu pesava 22 kg a menos do que peso hoje, e enquanto eles falavam eu fui me identificando com o assunto. Aquilo ficou matutando na minha cabeça, mas eu não fui atrás porque achei que não era importante naquele momento.
Na minha cabeça eu ficava pensando que eu me comportava igual aquelas pessoas. E ali tinha de tudo, desde pessoas extremamente magras, até pessoas com obesidade. Isso me fez entender que a compulsão alimentar não está ligada somente a um estereótipo físico.
Ao longo da minha vida, por exemplo, já falei várias vezes sobre isso, eu passo pelo efeito sanfona, de constante perda e ganho de peso. Depois que eu tive meus 3 filhos, muita coisa mudou e, embora a minha autoestima em relação ao meu corpo tenha melhorado, no sentido de não me criticar ou pressionar, a minha compulsão alimentar aumentou e eu comecei a reviver uma situação que me entristece demais.
Por mais que eu esteja bem comigo mesma, me sentindo bem, vez ou outra a compulsão alimentar aparece. Eu luto para sair do sobrepeso, pois a gordura é um processo inflamatório e faz mal para a nossa saúde. Eu não romantizo a situação, me amo do jeito que sou, mas sei que é sempre possível melhorar. Afinal, uma coisa é você se amar, se respeitar e não deixar que zoem com você, e outra coisa é você normalizar a obesidade, e isso está diretamente ligado à sua saúde.
Os discursos de body positive são lindos, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. Nós devemos nos aceitar e nos amar, mas isso não muda o fato de que o sobrepeso traz sérios riscos à nossa saúde.
É justamente porque eu me amo e amo a minha família que eu não me conformo em permanecer assim, muito menos em colocar o meu corpo e a minha saúde à mercê de diversos problemas que podem surgir a partir disso.
A sensação de descontrole gera culpa
Por que eu estou falando isso? Porque quem tem compulsão alimentar, como eu já tive, tem uma sensação de descontrole enorme diante da vida. E isso dói, machuca e gera culpa.
Eu tenho absoluta tranquilidade em admitir que sou falha (afinal, todas nós somos!), que vou errar e também acertar, e que esse processo consiste muitas vezes em tentativas frustradas ou bem-sucedidas.
Contudo, apesar de ter diversos defeitos, reconheço que sou excelente no meu trabalho, que escrevo muito bem, que sou uma boa professora para os meus alunos, que trato as pessoas com gentileza, que levo o cristianismo como principal valor para a minha família e que sou uma excelente esposa. Mas, quando se trata da minha alimentação, muitas vezes, eu me olho como uma fracassada. E é muito difícil reconhecer isso!
Antes de falar sobre esse assunto eu orei e pedi discernimento a Deus, pois essa sensação de fracasso tem a ver com a minha compreensão do que é comer. A nossa comunhão e conexão com Deus está intimamente ligada com a nossa saúde, afinal, somos corpo, alma e espírito.
Então, não ter controle em alguns momentos da minha vida e fazer isso que eu fiz, como comer uma caixa inteira de chocolate sozinha, me dá um absoluto senso de fracasso.
Viva um dia de cada vez
Desde os 13 anos eu sofro com isso e a minha compulsão não é só com alimentos gordurosos, como pizza ou hambúrguer, mas até com alimentos saudáveis, como frutas e saladas. Quando estou ansiosa, como uma bacia inteira de qualquer um desses itens.
Todo dia vai ser uma luta para quem tem compulsão alimentar!
Decidi desabafar sobre isso, mesmo sendo um assunto que me torna vulnerável, para dizer que você não precisa desistir de si mesma, só porque você não funciona exatamente como gostaria ou não é perfeita como desejaria. Eu não desisto de mim. A compulsão alimentar rouba a nossa alegria e nos impede de construir a nossa própria vida de um modo saudável.
Às vezes você está bem, às vezes você está mal e a ansiedade vem de repente. Entenda quais são os gatilhos que afloram a sua compulsão alimentar e lute contra isso, converse com alguém e faça um acompanhamento psicológico. Mas não abandone a si mesma por uma única falha. Basta a cada dia o seu próprio mal. Viva um dia de cada vez!