“Jesus respondeu: ‘As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça’.”
Mateus 8:20
Esse versículo da página anterior é um problema para muita gente, sobretudo para a geração nascida depois dos anos 1980, os chamados millennials.
Não que jovens já tenham sido pacientes algum dia na história deste mundo, mas é que os especialistas chegaram à conclusão de que nossa geração é a mais ansiosa e mimada de todos os séculos. Hum, será verdade?
Existem muitos artigos científicos nos chamando de GYPSY, uma sigla para Gen y Protagonists & Special Yuppies.
Se você procurar na internet, vai descobrir que Yuppie é uma derivação da sigla YuP (Young Urban Professional), que em português significa Jovem Profissional Urbano e é usada para se referir a profissionais que tem entre 20 e 40 anos, estão entre a classe média e a classe alta, trabalham em sua profissão de formação e seguem as últimas tendências da moda.
Como disse o professor Mario Sergio Cortella em uma de suas palestras, “só tem crise de escolha quem pode escolher”, ou seja, o jovem pobre, sem nenhuma possibilidade, nem para o que comer, tem bem menos crises, uma vez que vai pegar o primeiro trabalho que conseguir e se agarrar nele para sobreviver.
Por isso mesmo a descrição da internet é interessante, pois fala de uma situação financeira intermediária.
Existe entre nós uma certeza interna, nem sempre confessada, de que somos especiais, de um jeito mais especial que outros.
É como se tivéssemos lantejoulas e purpurinas em nossa alma, mas as pessoas ao redor insistissem em não jogar o refletor sobre nós para não nos deixar brilhar na plenitude mágica de nossa maravilhosidade.
Muita gente – acredite! – passa o dia cantarolando a trilha sonora preferida: Shine bright like a diamond, no melhor estilo Rihanna de ser. Só não entendi direito ainda o que nos levou a isso.
Talvez tenham sido nossos pais, numa tentativa de amenizar a culpa por estarem ausentes, correndo atrás de dinheiro para nos dar o melhor – seja lá o que isso signifique.
Agora que tenho filhos, entendo esse sentimento de que nossos rebentos são especiais demais – só que são especiais para nós, não para todo mundo.
Sei que pode parecer pouco maternal, mas tenho plena consciência de que, embora sejam os tesouros mais valiosos da minha vida, meus filhos são apenas crianças comuns para o resto do mundo, mesmo para você que gosta de mim e me acompanha.
Levá-los a crer que são os seres mais especiais do planeta pode ser uma cilada para suas vidas, uma vez que, ao crescer um pouco e começarem a errar, descobrirão que não é bem verdade esse negócio aí.
Tem muita gente nesta situação: cresceu ouvindo que o seu desenho era o mais bonito, que seu jeito de andar era o mais charmoso, que sua fala era a mais correta, que em tudo se destacava.
Daí chega na escola e a professora corrige o desenho, os amigos zombam do seu caminhar, o chefe repreende sua maneira de dizer as coisas e o mercado de trabalho não o premia com salário nem posições por todos os talentos múltiplos que cresceu acreditando que tinha.
O que fazer agora? Senta e chora!
Não nos foi dito “não” e por isso não sabemos lidar com negativas, com frustrações, com portas batidas na nossa cara.
Demorou-se demais para dizer que precisávamos nos empenhar no desenho, que era preciso ficar quieto enquanto os adultos falavam, que não era legal o showzinho para conseguir as coisas, que ficaríamos, sim, no cantinho da disciplina, que, se desobedecêssemos, ficaríamos, sim, sem o brinquedo favorito e que, não, não receberíamos prêmio por arrumar nossa cama, nosso quarto e nossa bagunça.
Afinal, isso é obrigação, não favor. Consegue entender a dimensão disso tudo?
Uma geração inteira sem saber lidar com “não”, com negativas, e que se entrega a uma frustração crônica, beirando a depressão, apesar de tudo o que se tem hoje.
Nunca se poderia imaginar tanto acesso à informação, à democratização, à liberdade de expressão, à aceitação das diferenças e a inúmeras vantagens que nem nossos pais, menos ainda nossos avós, sonhariam.
Ainda assim, tendo tudo isso, nos sentimos como se não tivéssemos nada, pois queremos mais, queremos tudo.
Por isso que, ao falar de um Deus soberano que se resignou à forma humana, privando-se de tudo o que era seu por opção por algo maior – um Deus que pagou o preço e esperou o tempo -, temos dificuldade de aceitar.
Para a geração do tudoaomesmotempoagora não faz o menor sentido galgar, subir degrau por degrau, aprender com sofrimentos e negativas e se aperfeiçoar por algo melhor.
“Um Deus que não tinha onde reclinar a cabeça?”, eles pensam. “Não, obrigada, eu passo.” E na sua angústia e felicidade, apenas clamam: “Próximo, por favor!”.