Eu estava na fila da loja, esperando minha vez de entrar no provador. Bem lá na frente estava uma mãe com duas filhas, uma devia ter por volta de 18 e a menor não tinha mais que 13 anos.
Elas entraram, a pequena sozinha num provador, e a mãe com a mais velha em outro. Ali parada, com várias peças na sacola, aguardando minha vez, notei a cortina da menor entreaberta, coisa que ela nem percebeu, e eu podia vê-la provando o vestido branco drapeado e bem curtinho, tomara que caia.
Acho que estavam fazendo as compras para o período de festas, tentando se antecipar à loucura de final de ano e eu ali concentrada na menina em início de adolescência.
Sorri discreta enquanto ela tentava fechar o vestido sem ajuda e por um momento pensei que em alguns anos seria eu com duas meninas no provador feminino.
Ela então fecha, ajusta no busto e no comprimento, mexe o corpo como que cabendo, sorri para o espelho, faz um carão, ajeita o cabelo, e começa uma dancinha clássica de TikTok e então se joga em posturas sensuais, com um funk tocando em silêncio na sua cabeça. Supus. Ela continua, balança muito o derriére com uma habilidade que me faria travar a coluna tragicamente e passa o dedo da boca aos tímidos seios.
A mãe chama já abrindo a cortina e ela se ajeita no susto, falando que gostou do vestido, que queria ficar com ele. Ela então, meio irritada com a mais velha, só pede pra caçula sair e vão as três para o caixa, passando por mim e deixando mil questões na minha cabeça.
Afinal, assim que começam a se relacionar em sociedade, longe dos nossos olhos, como na escola, para começo de conversa, o que nós pais realmente sabemos sobre nossos filhos?
Vestida de forma conservadora, com o cenho franzido e visivelmente cansada, a mãe tinha noção do que a filha faria com o curto e sensual vestido branco? Ela se importava? Era escondido? A menina da dança sensual já tinha vida sexual ativa, tão novinha? Vivia uma vida dupla, escondida da família? Os pais tentavam controlar, já tinha desistido de tudo?
Olhei para as três lá atrás no caixa e deixei a próxima passar na minha frente, pra eu poder interpretar as mulheres ali até o fim da possibilidade. Cada família é um ecossistema complexo e cada pessoa um mundo quase indecifrável. Ali tão protegidos e controlados, meus filhos seriam aquela menina no futuro? Eu saberei o que pensam e fazem em minha ausência?
Ensinar a criança no caminho em que deve andar, como sempre acreditei, esbarra no livre arbítrio de cada um.
Oh, Céus!
